Archive for Maio, 2013

“A noite que durou 21 anos”

28/05/2013

“A noite que durou 21 anos”

Postado em: 9 abr 2013 às 14:51

A noite de 31 de março para 1º de abril de 1964 foi o começo da escuridão. As sombras da noite de vinte e um anos avançaram mais do que deviam sobre o amanhecer de um país que queria fazer seu futuro

Acabo de ver “O dia que durou 21 anos”, documentário de Camilo Tavares que expõe as vísceras podres da participação dos Estados Unidos no golpe de 64 e na ditadura militar. Converso com amigos, rememorando aquela fase que vivemos e sobrevivemos. O filme, como outros que tratam de diversos outros aspectos do período ditatorial, deveria se visto por muito mais gente do que o público que lotava o pequeno cinema onde passou. E, principalmente, deveria ser visto pelas gerações mais novas que nasceram durante aqueles anos ou depois. Essa história triste não pode ser repetida e, para isso, não pode ser esquecida. Os trabalhos e esforços da Comissão Nacional e das Comissões Estaduais da Verdade, com suas investigações e com os depoimentos tocantemente terríveis de vítimas das prisões e torturas, encontram, nesses filmes, um excelente complemento para trazer à tona o que aconteceu naqueles vinte e um anos.

Tenho apenas um reparo a fazer, quanto ao título do filme: preferia chamá-lo “A noite que durou 21 anos”, pois vivemos, durante aqueles anos, na escuridão da repressão, da censura e do retrocesso. E a noite de 31 de março para 1º de abril de 1964 foi o começo daquele tempo de escuridão.

dia que durou 21 anos

Capa do Filme “O dia que durou 21 anos” (Reprodução)

Durante todo o dia 31 sucediam-se os boatos e as notícias sobre um possível movimento militar. Em Porto Alegre, no início da noite, muitos militantes do movimento estudantil começaram a dirigir-se para o Restaurante Universitário, sede da FEURGS (Federação dos Estudantes Universitários da URGS – naquela época sem o F). Durante toda a noite, reuniões, notícias e, pela madrugada do dia 1º de abril, a confirmação do golpe. A impotência do “perigoso” movimento estudantil pode ser avaliado pela quixotesca tentativa de buscar, nas primeiras horas da manhã, alguns colegas em casa, para ir à Universidade “organizar a resistência”. E o dia da dessa resistência não amanheceu. Tudo estava muito bem preparado pelos militares e políticos coniventes, com o apoio forte e decidido do governo estadunidense, como se pode ver no filme de Tavares.

No início, muitos pensavam que a ditadura iria durar pouco, mas as opiniões mais pessimistas, do longo prazo, revelaram-se acertadas. Foi o início da longa noite e o fim da nossa juventude.

Hoje, tentamos desvendar, lembrar, denunciar, toda a perversidade do processo. As comissões da verdade trazem à luz documentos, depoimentos; as perseguições e as torturas são descritas e são essas as pontas mais visíveis e terríveis (por mais que negadas e sonegadas) do icebergue. O grande corpo de todo o mal que esse período deixou para nossa história também precisa vir à tona.

A ditadura foi eficaz em acabar com todas as tentativas de formular um projeto nacional. Os episódios traumáticos do suicídio de Vargas e da renúncia de Janio, a euforia dos anos JK, foram o pano de fundo do processo de uma nação que se modernizava, questionava sua história e queria agarrar seu futuro. Após a Legalidade, quando as forças retrógradas pareciam ter sido vencidas, no turbulento governo Jango, a crise pareceu transformar-se em grandes oportunidades. O golpe abortou esse futuro e colocou no seu lugar a continuidade da história colonial e a submissão à ordem da guerra fria e dos interesses econômicos externos.

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Acabaram todas as experiências de cultura popular, de organização comunitária no campo ou na cidade, de novas propostas políticas, de novas concepções de educação e de universidade, de uma economia referida aos interesses e às potencialidades nacionais.

Além do esmagamento das organizações de trabalhadores urbanos e rurais, das organizações sindicais e estudantis, a vida política foi truncada. Foram cassadas todas as lideranças de oposição à ditadura (mesmo muitas de perfil conservador, mas formalmente democráticas ou outras moderadamente reformistas). Pior ainda, foi abortado o surgimento, a formação e consolidação de novos líderes, que começavam a emergir nas áreas sindicais e acadêmicas e na política partidária.

Um dos maiores crimes da noite ditatorial deu-se na área da educação. Os novos e revolucionários métodos e concepções que começavam a ser experimentados foram sumariamente extintos e a escola começou o triste caminho de decadência. A concepção de uma universidade criativa, crítica, verdadeiro centro da vida cultural, foi abatida e a instituição passou a ser um pobre simulacro de uma formadora deficiente de profissionais medíocres (com o agravante de intensa repressão às tentativas de reação a esse processo).

Nos anos setenta, no auge da escuridão, a ditadura acende a luz artificial do “milagre brasileiro” e uma minoria beneficiada agrupa-se em torno desse mito, enquanto, no lado escuro, cresce a pobreza e a repressão funcionaliza a morte e a tortura.

Durante essa longa noite, o Brasil povoou outras terras de milhares de exilados. Longos anos roubados do convívio com familiares, amigos, de impedimento de carreiras profissionais (com prejuízo não só pessoal, mas para o país). E sofrimentos, ausências, perdas. Ao mesmo tempo, tivemos o que se pode chamar de “exílio interno”, da enorme multidão que se viu sem vez e sem voz, impotente, com a frustração diária diante de um regime que não admitia a menor tentativa profissional, política ou cultural fora de seus critérios (ou da falta de critérios dos que compactuavam com a ditadura).

Enquanto isso, todos os que nasceram e cresceram durante essa noite autoritária, tiveram sonegados os mais significativos direitos à formação familiar, escolar e social para a cidadania democrática. Basta que imaginemos uma criança que cresce em meio à censura, ao medo e, talvez pior, ao contínuo convencimento de que esse regime de repressão é natural e apropriado. Foram os anos em que a educação para o pensamento crítico foi proibido, porque ele era sinônimo de subversão.
Foi noite e foram trevas. É impossível esquecer. A vida de quem viveu (e sobreviveu) esse período nunca mais foi a mesma. Além dos crimes, das mortes, das torturas, das prisões, das carreiras interrompidas e das sequelas individuais, físicas e psicológicas, que não podem ficar impunes, é preciso que toda a história dessa noite seja desvendada e que se tenha consciência de como ela exerce sua nefasta influência até os dias de hoje.

O período que se convencionou chamar de “redemocratização” poderia ser caracterizado como uma convalescença de uma doença grave, que deixa muitas sequelas.

A anistia “geral e irrestrita” foi arrancada como uma concessão de quem se sentia ainda com muito poder – e usada até hoje para isentar de culpa os responsáveis pelas mortes e torturas.

A transição política foi tutelada, depois a “abertura lenta e gradual”, de forma a impedir um reordenamento partidário democrático, sem as armadilhas e os freios que duraram até a reforma constitucional. Todas as salvaguardas foram adotadas para a sobrevivência do “fantasma” da ditadura. O imprevisto governo Sarney talvez tenha desarticulado um pouco a racionalidade do processo, mas seria certamente mais agravou do que amenizou as sequelas da ditadura.

O que é importante salientar é como esse período de “amanhecer” foi grandemente marcado por sombras da ditadura. Herdamos uma classe política viciada na subserviência, instituições moldadas pelo autoritarismo ausência de políticas públicas e, principalmente um baixíssimo nível de cidadania. Nem o processo constituinte, que mobilizou (e revigorou) alguns setores da sociedade conseguiu sensibilizar a grande maioria da população (propiciando, inclusive, uma rearticulação conservadora no famoso “centrão”), Tudo isso dentro de um quadro inflacionário em um mundo que começava a viver a euforia neoliberal do mercado onipotente. Nenhuma surpresa, portanto, com fiasco da esperada primeira presidência eleita diretamente.

A escuridão da madrugada pós-ditadura custou para dissipar-se. Depois do processo constituinte, um tímido raio de luz foi o impeachment, com o sinal de respeito à legalidade constitucional.

Mas a herança da ditadura continuou marcando a vida política, social e cultural do país, com o aumento da miséria, com o crescimento da violência urbana e a instalação do crime organizado, com o sistema de ensino e a universidade continuando em decadência, com a questão agrária se agravando. Mais ainda, vem à tona a crise ambiental já pressentida a partir da exploração desordenada do território, dos descaminhos do saneamento básico e da degradação das águas.

Mesmo que não se credite ao regime militar a totalidade da responsabilidade por esses problemas, os vinte e um anos de autoritarismo significaram um atraso fundamental no enfrentamento dos mesmos.

As sombras da noite de vinte e um anos avançaram mais do que deviam sobre o amanhecer de um país que queria fazer seu futuro. Foram ainda alimentadas pela hegemonia do neoliberalismo global, traduzido nas privatizações de setores estratégicos, nos anos noventa.

Ainda persistem essas sombras. Quem sabe quantos anos serão necessários, ou quantas gerações, para que elas se dissipem. O efeito das políticas sociais, a implantação de políticas compensatórias, o acesso e o exercício da cidadania plena, a recuperação da criatividade e da consciência crítica, a elevação do nível cultural e intelectual da população e tantos outros elementos de construção da justiça e do bem estar de uma nação, tudo isso não se faz sem exorcizar a lembrança e os efeitos da longa noite.

Luiz Antonio Timm Grassi, Sul21

A história das crianças envenenadas pelo agrotóxico da

25/05/2013

A história das crianças envenenadas pelo agrotóxico da Syngenta

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/criancas-envenenadas-pelo-agrotoxico-da-syngenta.html

Postado em: 24 mai 2013 às 10:33

A história do envenenamento de crianças pelo agrotóxico da Syngenta em Goiás

O mono-motor sobrevoou, às 9h20, do dia 03 de maio de 2013, a escola pública “São José do Pontal”, localizada no Projeto de Assentamento “Pontal dos Buritis”, que abriga 150 famílias, às margens da Rodovia GO-174, no município de Rio Verde (GO), situada a 130 km da área urbana.

sygenta goiás crianças agrotóxicos

No dia 17, foi descoberto que sete casos necessitariam de acompanhamento médico especializado, por terem sido diagnosticados problemas nos rins e fígados das crianças (Foto: Reprodução)

Num período de 20 minutos, o piloto sobrevoou por cinco vezes a escola, em especial a quadra de concreto, molhando com o pesticida “Engeo Pleno”, da empresa Syngenta, 60 crianças que ali se encontravam.

Os alunos, com idade entre 4 a 16 anos, que naquele momento lanchavam a céu aberto, engoliram o composto denominado piretroide (classe toxicidade 3 e 4), sem conhecimento perigo no primeiro instante.

Em seguida, todos já afetados pelo veneno sentiram, no primeiro momento, coceira na pele, falta de ar, tonturas e problemas na visão. Logo após, várias crianças desmaiaram, enquanto outras tentaram se livrar do pesticida, se lavando com água e sabão. Os professores pediram ajuda por telefone.

A maioria das vitimas foi levada para a cidade mais próxima, Montevidio, localizada a 30 km. Dessas, 28 ficaram internadas no hospital municipal, vomitando, com a boca seca e sentindo tonturas permanentes.

Alguns alunos foram socorridos pelos próprios pais, que os transferiram para a Unidade do Pronto Atendimento – UPA, na cidade de Rio Verde, tendo recebido alta no dia 5 de maio de 2013.

No dia 17 deste mês, as crianças retornaram ao UPA Rio Verde e, no dia seguinte, foi descoberto que sete casos necessitariam de acompanhamento médico especializado, por terem sido diagnosticados problemas nos rins e nos fígados.

As denúncias foram registradas junto a Agência Goiana de Defesa Agropecuária – AGRODEFESA, no IBAMA e na Policia Civil, cujas instituições estão investigando o caso, que não se trata de fato isolado, conforme informa o Delegado Danilo Carvalho, responsável pelo 8º Distrito Policial, e considera o acidente como crime federal. O piloto e a empresa responsável pela aeronave (Aviação Agrícola Agrotex LTDA) foram multados.

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O engenheiro agrônomo da Cooperativa Comigo, responsável pelo receituário, não se manifestou sobre o fato.

Uma equipe multidisciplinar, formada por toxicólogos, médicos, sanitarista, psicólogos, biólogos, dentre outros, irá acompanhar as vítimas e suas eventuais sequelas.

Os agrotóxicos

O Engeo Pleno é um inseticida da Syngenta e é constituído por uma mistura de lambda cialortrina e tiametoxan. O último é um neonicotinóide que está sendo proibido na Europa devido à associação com o colapso das colmeias.

O tiametoxam está na lista de agrotóxicos (junto com imidacloprido,Clotianidina e Fipronil) em reavaliação ambiental pelo IBAMA, para fins de revisão do registro, como publicado num comunicado no DOU de 19 de julho de 2012, por serem altamente tóxicos para abelhas. No mesmo comunicado que indicou a reavaliação, havia a indicação de suspensão imediata de pulverização aérea.

No entanto, posteriormente foi publicado no DOU de 03 de outubro de 20,13 o cancelamento da suspensão da pulverização aérea anunciada em julho. No DOU de 04 de janeito deste ano o MAPA publica Instrução Normativa onde permite, até o fim da reavaliação ambiental desses quatro venenos, a pulverização desses agrotóxicos para as culturas de algodão, soja, cana-de-açúcar, arroz e trigo, proibindo-a somente no período de floração.

Pelo que tudo indica, o tiametoxam, do ponto de vista ambiental, já poderia ter sido proibido e, pelo menos pelo principio da precaução, não deveria mais ser utilizado por pulverização aérea, podendo até ter evitado o acidente relatado. Além do que sua pulverização aérea não ser permitida para lavouras de milho, muito menos é recomendada para “controle de pulgão”.

Do ponto de vista da saúde a lambda-cialotrina está associada a distúrbios neuromotores, como mostrado em estudo com ratos (Dossie Abrasco parte 1). Já o tiametoxam pode causar ansiedade e alterar os níveis da acetilcolinesterase (Behavioral and biochemical effects of neonicotinoid thiamethoxam on the cholinergic system in rats. Rodrigues et al, 2010). O tiametoxam também mostrou efeitos hepatotóxicos e tumores de fígado em camundongos, mas não em ratos. Segundo os autores do estudo o modo de ação não é relevante para seres humanos (Case Study: Weight of Evidence Evaluation of the Human Health Relevance of Thiamethoxam-Related Mouse Liver Tumors. Pastoor et al, 2005).

Contraagrotóxicos.org

Meninas indígenas são vítimas de rede de pedofilia

23/05/2013

Meninas indígenas são vítimas de rede de pedofilia no Alto Rio Negro (AM)

Esquema aumentou e está mais escancarado no município de São Gabriel da Cachoeira, mas não vem sendo alvo de investigação e punição

São Gabriel da Cachoeira, 08 de Setembro de 2012

ELAÍZE FARIAS

 
Localizada no bairro Miguel Quirino, um dos mais miseráveis do município, a rua Rui Barbosa é conhecida na cidade como o local onde se dá a abordagem às vítimas

Localizada no bairro Miguel Quirino, um dos mais miseráveis do município, a rua Rui Barbosa é conhecida na cidade como o local onde se dá a abordagem às vítimas(Divulgação )

Uma rede de pedofilia vem se consolidando no município de São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus), no extremo norte do Amazonas, sem que os envolvidos sejam investigados e muito menos punidos. As vítimas são meninas indígenas entre 10 e 16 anos de idade. Pessoas vinculadas a instituições sociais são ameaçadas caso façam as denúncias e as vítimas são coagidas a ficarem caladas.

Nessa semana algumas pessoas ligadas a estas instituições aceitaram falar sobre os casos. Segundo elas, a exploração sexual, antes velada, tem se tornado cada vez mais escancarada. Respaldados pela falta de investigação, os exploradores sexuais e aliciadores não temem ser punidos e continuam praticando o crime contra as meninas.

Em agosto passado, seis meninas indígenas aceitaram prestar depoimento à representação da Polícia Federal em São Gabriel da Cachoeira, município onde 90% de sua população é indígena. O depoimento foi confirmado pelo representante da PF no município, Cláudio César.

O conteúdo das declarações, contudo, não foi revelado à reportagem. Cláudio disse apenas que os depoimentos farão parte de um relatório que ele enviará para a promotoria de São Gabriel da Cachoeira e para a superintendência da PF, na próxima semana.

A delegada especializada em crimes contra menor, idoso e violência doméstica de São Gabriel da Cachoeira, Ivone Rocha, confirmou a existência dessa rede, mas alegou que o órgão não tem estrutura para investigar os casos. A Polícia Civil tem apenas um investigador no município. Ela também informou que as meninas vítimas da violência sexual não costumam denunciar os suspeitos.

Comércio 
O comércio do sexo com crianças e adolescentes tem à frente um pequeno grupo de comerciantes “com dinheiro” que se instalou há algum tempo no município e funcionários públicos. O alvo preferido da exploração sexual são meninas virgens. Em muitas ocasiões, as meninas também acabam sendo vítimas do tráfico de drogas.

“Essa rede de pedofilia, como a gente chama, existe há muito tempo, mas aumenta a cada ano, a cada mês. Está se alastrando. Está a olho nu. Antes, estes homens pegavam meninas de 14, 16 anos. Agora, pegam meninas de 12, 11 e até 10 anos. São meninas de famílias muito pobres que vêm de suas comunidades. Sem condições financeiras, elas acabam sendo vítimas desses comerciantes”, disse uma conselheira tutelar que prefere ficar no anonimato.

Embora a abordagem dessas garotas ocorra em casas noturnas, bares e até portas de escola, o local que acabou se tornando uma espécie de ponto de encontro é a rua Rui Barbosa, no bairro Miguel Quirino, apontado como o mais pobre do município.  

“Tem menina mais velha que leva as irmãs mais novas. A menorzinha ganha apenas um biscoito, uma fruta. A maior ganha uns R$ 50. Soubemos de casos horríveis, como a menina que é levada para cinco, seis pessoas”, disse ela.

Descaso
A prática da exploração sexual de menores não é recente e já foi denunciada em outras ocasiões, segundo a conselheira. “As pessoas sabem que existem. Já denunciamos ao Ministério Público, ao Fórum de Justiça, mas não passa disso. Deixamos até de ir à Polícia Civil porque nada acontece ali. Além do mais, as meninas e as famílias ficam com medo de denunciar. A cidade é muito pequena”, disse a conselheira, ela própria bastante receosa em dar esta entrevista por temer a fúria da rede que pratica a exploração sexual.

A presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA), irmã Justina Zanato, que acompanha algumas meninas envolvidas nesta rede, disse que já ouviu uma criança de 10 anos dizer que os homens oferecem produtos como iogurte, chocolate e frutas como pêra e uva.

Medo
Irmã Justina diz que tentativas de denúncias esbarram no receio das autoridades públicas em investigar os casos. “A maioria dessas crianças e jovens entra nessa rede por falta de algum incentivo maior dentro da família ou por fome mesmo. Mas quando a gente denuncia, parece que todos têm medo. É como se alguém estivesse freando as investigações e a punição”, contou.

Medo de denunciar, omissão das autoridades públicas e ameaças explícitas são as principais causas da perpetuação e do crescimento da prática de exploração sexual, segundo uma psicóloga que atua em São Gabriel da Cachoeira e que acompanha estes casos há alguns anos.

“Todo mundo sabe quem são as pessoas. E são pessoas poderosas. Quando se faz uma tentativa de denunciar, acontecem as ameaças”, diz ela.

A psicóloga fez uma pesquisa que traçou o perfil das meninas vítimas da exploração. São, na maioria, garotas indígenas, pobres e vulneráveis socialmente que vêm das aldeias em busca de melhores condições de vida. Os praticantes são em geral homens maduros, comerciantes “estabelecidos  na cidade” que raramente vão em festas e que, aparentemente, possuem uma conduta ilibada.

Ação
Uma ex-funcionária da Secretaria Estadual de Povos Indígenas (Seind), indígena da etnia baré nascida no município de São Gabriel da Cachoeira e que também teme ter seu nome divulgado, confirmou a existência desta rede e do crescimento dela. Afirmou ainda que uma tentativa de discutir o assunto foi feita há algum tempo, mas nenhuma ação efetiva foi adiante.

“A gente sabe que existe, mas precisa de provas consistentes. Deveria haver uma ação conjunta entre a Polícia Civil, a Polícia Federal, o Conselho Tutelar e o Ministério Público Federal. A Funai vai de mal a pior, a lei deixa de fazer a parte dela. E ninguém é punido”, disse a indígena.

Falta estrutura
A delegada especializada em crimes contra criança e adolescente, idoso e violência doméstica de São Gabriel da Cachoeira, Ivone Rocha, disse que “sim, existe” uma rede de pedofilia naquele município, mas que é preciso a população se “conscientizar” e começar a denunciar a prática.

Questionada se a Polícia Civil poderia, a partir de denúncias já realizadas, e iniciar uma investigação mais aprofundada, ela afirmou que a instituição sofre com falta de estrutura para tal ação.

“Estou lá há um ano. As meninas não estão dispostas a denunciar. Muitas vezes inocentam o cidadão. Negam tudo. Mas algumas denúncias já estão sendo sim  apuradas, são casos mais recentes”, disse.

Conforme Ivone, além dela há apenas um policial civil para fazer o trabalho de investigação na cidade. “A gente não tem como sair procurando e intimando as pessoas. Antes eu fazia ronda. Havia quatro policiais civis e dois escrivães. Hoje, tenho apenas um investigador e um escrivão. Por isso que é preciso que as pessoas denunciem”, disse.

Miséria
O presidente Federação das Organizações Indígenas da Alto Rio Negro (Foirn), Abrahão França, indígena da etnia baré, afirmou que, de fato, existe uma equipe que comanda essa situação.

“É o pessoal do comércio. O pior é que todos sabem o nome, sabem quem são a própria polícia sabe disso. Mas fica no descaso. Já ouvi dizer que existe até tabela. Se for virgem, vale tanto. A gente sabe que acontece esta situação, mas nunca avançou para denunciar. Isso até o momento. Mas o procurador do MPF está aqui esta semana em São Gabriel da Cachoeira e vamos discutir”, disse.

França afirmou que nos últimos anos este problema se agravou. Um dos motivos é que um ‘parente’ indígena ganhou a eleição e trouxe muitas expectativas para os que moram no interior distante.

“Muita gente veio para a cidade achando que teria emprego, mas não tem. Quando chega na cidade não tem o que fazer, não tem mais roça e não tem onde morar. Precisa comer, precisa vestir e não tem onde buscar o sustento. Aí aparecem esses homens que comandam e fazem isso”, afirmou.

Indígena
Localizado à margem do rio Negro, São Gabriel da Cachoeira é considerado o município mais indígena do Brasil. Sua região é habitada por mais de 22 etnias diferentes.

No município, além do português, outras três línguas são consideradas oficiais: tukano, nheegantu e baniwa. Sua localização geográfica é considerada estratégica, pois faz fronteira com Colômbia, Venezuela e Peru. A área também é rica em minérios, como ouro e nióbio.

Estupro
Um caso de violência sexual contra menores que chocou o conselho tutelar de São Gabriel da Cachoeira é o de uma menina indígena de 13 anos que foi estuprada no dia 8 de junho deste ano por um homem identificado com Léo. A menina, de etnia tukano e baré, que está grávida, tem um grau menor de retardo mental.

No início de agosto, ela esteve em Manaus para fazer ultrassom (não existe este serviço em São Gabriel) e sua mãe aproveitou para fazer um boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA).

Pelo relato, a menina estava indo para a escola quando foi abordada por um motorista de táxi lotação, que a estuprou em um ramal. Ela já voltou ao município e o caso foi encaminhado para a Delegacia do Interior, segundo informações da DEPCA.

Sobre este caso, a delegada Ivone Rocha afirmou que, até o último dia 21 de agosto, quando estava no município, ainda não tinha recebido o boletim para dar encaminhamento às investigações e pedir a prisão preventiva do suspeito. Ivone está em Manaus, de licença médica, e retorna para São Gabriel da Cachoeira na próxima semana.

Legislação 
A legislação que pune abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes encontra-se na Constituição Federal, no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Na Constituição, encontra-se no artigo 227, parágrafo 4º. “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente”.

No ECA, os tipos de penas estão mais detalhadas. Elas são aplicadas conforme a gravidade do crime.

No Código Penal, abuso, violência e exploração sexual de crianças e adolescentes são enquadrados penalmente como corrupção de menores (art. 218) e atentado violento ao pudor (art.214 ), caracterizado por violência física ou grave ameaça.

http://acritica.uol.com.br/amazonia/Manaus-Amazonas-Amazonia-Prostiuicao_Infanto_Juvenil-Sao_Gabriel_da_Cachoeira-Indios-Meninas-Alto-Rio-Negro-AM_0_770323003.html

Paris Review – The Art of Fiction No. 203, Ray Bradbury

20/05/2013

Paris Review – The Art of Fiction No. 203, Ray Bradbury.

Arthur C Clarke – GLIDE PATH

18/05/2013

An italian asked me yesterday: “Who the hell is Arthur C Clarke?”
I said: “Let me put it this way. If it wasn’t for his job with radars in Second World War, you guys would probably be saying “Heil Hitler” now.”

Arthur C Clarke pushing the envelope on first radars during WW II.
http://www.goodreads.com/book/show/143680.Glide_Path

Via Anatomy In MotionWednesday  Did You Know: The adult human

11/05/2013
Wednesday 
 

Did You Know: The adult human skull contains 22 bones! The cranium is made up of 8 bones that enclose and protect the brain suspended in the cranial cavity. The other 14 are facial bones that protect and support the digestive and respiratory tracts.

VERSOS ÁUREOS (Pitágoras)

08/05/2013

VERSOS ÁUREOS (Pitágoras)

Aos deuses, segundo as leis, presta justas homenagens;

Respeita o juramento, os heróis e os sábios;

Honra teus pais, teus reis, teus benfeitores;

Escolhe para teus amigos os melhores homens.

Sê obsequioso, sê fácil em negócio.

Não odeies teu amigo por faltas leves;

Serve com o teu poder a causa do bom direito:

Quem faz tudo o que pode faz sempre o que deve.

Mas sabe reprimir como um mestre severo,

O apetite, o sono, Vênus e a cólera.

Não peques contra a honra nem de longe nem de perto.

E só, sê para ti

mesmo, rigorosa testemunha.

Sê justo em ações e não em palavras;

Não dês pretextos frívolos ao mal.

A sorte nos enriquece, ela pode empobrecer-nos:

Mas fracos ou poderosos devemos todos morrer.

Não sejas refratário à tua parte de dores.

Aceita o remédio útil e salutar,

E sabe que sempre os homens virtuosos,

São os menos infelizes dos mortais aflitos.

Que teu coração se resigne aos injustos colóquios;

Deixa falar o mundo e segue sempre teu caminho,

Mas não faças nada, sobretudo levado pelo exemplo

Que seja sem retidão e sem utilidade.

Faz caminhar em tua frente o conselho que te aclara

Para que a absurdidade não venha atrás.

A tolice é sempre a maior das desgraças

E o homem sem conselhos responde por seus erros.

Não obres sem saber, sê cioso para aprender.

Dá ao estudo um tempo que a felicidade deve restituir.

Não sejas negligente em cuidar da tua saúde;

Mas toma o necessário com sobriedade.

Tudo que não pode prejudicar é permitido na vida;

Sê elegante e puro sem excitar a inveja.

Foge à negligência e ao fausto insolente;

O luxo mais simples é o mais excelente.

Não procedas sem pensar no que vais fazer,

E reflete, à noite, sobre toda tua jornada.

Que fiz? Que ouvi? Que devo lastimar?

Para a justiça divina assim poderes subir

Eu tomo-te por testemunha: tetractys inefável,

Fonte inesgotável das formas e do tempo;

E tu que sabes orar, quando os deuses são por ti,

Conclui a tua obra e trabalha com fé.

Chegarás cedo e sem trabalho a conhecer

Donde procede, onde pára, para onde volta teu ser.

Sem temor e sem desejos saberás os segredos

Que a natureza vela aos mortais indiscretos.

Tu calcarás aos pés esta fraqueza humana

Que ao acaso e sem alvo conduz a fatalidade.

Saberás quem guia o futuro incerto,

E que demônio oculto segura os fios do destino.

Tu subirás então sobre o carro de luz.

Espírito vitorioso e rei da matéria,

Compreenderás de Deus o reino paternal

E poderás assentar-te numa calma eterna.